Curitiba foi, por muitos anos, conhecida e reconhecida como uma cidade sisuda. Não era raro, inclusive, ouvir alguém dizer que o clima da cidade, mais fria que o usual para um país tropical, fosse uma explicação para tal sisudez. Nos últimos tempos, contudo, essa visão começou a mudar, e em grande parte por conta do surgimento de grandes humoristas que tiveram a capital paranaense como 'palco de lançamento'. Foram os casos, por exemplo, de Afonso Padilha - que na última quinta-feira estreou um especial de comédia na Netflix - e Emerson Ceará.
Acontece que o lugar onde começaram tantas histórias e de onde saíram tantas risadas agora está vendo sua própria história chegar ao fim. Nesta terça-feira, 8 de setembro, o Curitiba Comedy Club, localizado na Rua Mateus Leme, bairro São Francisco, anuncia que encerrará as atividades.
Segundo o empresário João Leonardo Madalosso, a decisão foi tomada por conta da crise que se instalou na empresa em face da pandemia do novo coronavírus. Há praticamente seis meses com as portas fechadas, o Comedy Club ainda tentou reabrir como restaurante, mas a capacidade foi extremamente reduzida, situação que foi agravando mais e mais a condição financeira do estabelecimento.
“São seis meses com faturamento quase zero. Preciso de umas mil pessoas para pagar o custo fixo da casa e não estou conseguindo atender 500. O buraco está aumentando, aumentando, aumentando… Há um mês minha família está na base do calmante, mas se eu não tomasse essa decisão, daqui a pouco não teria nem dinheiro para pagar a rescisão dos funcionários”, comenta Madalosso, fundador e proprietário do Curitiba Comedy Club.
Ao todo, foram 10 anos de história da casa, que lançou diversos artistas e virou até ponto turístico na cidade.
“Lançamos milhares de comediantes, tornamos Curitiba uma referência mundial de humor e a prova disso é o Afonso Padilha, que anteontem lançou na Netflix um especial de humor que vai para todo o mundo. Ele começou aqui. A nível nacional, um cara que era garçom nosso hoje é um dos maiores comediantes do Brasil, o Emerson Ceará. Colocamos Curitiba não só no mapa da comédia, mas mostramos que a cidade, que era conhecida como de caras quietos, sisudos, não é nada disso”, se orgulha o empresário.
Para quem quiser se despedir, o Comedy Club seguirá aberto até o próximo dia 19, atendendendo como restaurante. Não haverá, contudo, nenhum evento ou live especial de despedida. Ainda assim, fica a esperança de que um dia seja possível rir de volta.
“Vamos seguir com lives, mas da casa, o espaço físico, esse vai fechar mesmo. Espero um dia conseguir voltar, mas só vou pensar nisso quando derem um okay. Até maio eu estava otimista, mas agora virei um completo pessimista. Acho que vai ser mais um ano nesse vai e vem [em referência às restrições impostas por conta da pandemia de coronavírus]”.
‘Ajuda do governo chegou a conta gotas’
De acordo com o empresário, um dos problemas que o Comedy Club acabou enfrentando, assim como outras casas, foi a falta de apoio por parte do governo, nas mais diferentes esferas. Basicamente, a situação que se criou com a pandemia foi de impedir o funcionamento de estabelecimentos com o Comedy Club. Ao mesmo tempo, porém, as empresas viram seu faturamento cair a quase zero. Com acesso restrito a crédito (e crédito caro) e a falta de apoio por parte do Poder Público, a situação foi se tornando insustentável.
“As ajudas do governo, quando chegaram, chegaram atrasadas e chegaram pouco, a conta gotas. O mínimo que podia fazer, que era dar anistia de impostos, não fez. No máximo parcelou impostos, mas isso é dívida que uma hora teríamos de pagar”, reclama Madalosso. “Os bancos, que chegaram falando que são amigos, companheiros, que queriam ajudar, aumentaram em 30, 40% os juros. Eles aumentaram os juros quando a gente pedia para dar um pause”, desabafa.
Fonte: bemparana.com.br/noticia/monumento-do-humor-curitiba-comedy-club-anuncia-que-esta-fechando-as-portas#.X1keknlKjIU